segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Um outro modo de denominar as hortaliças não convencionais

Por: Prof. Daniel Gentil - UFAM


As hortaliças convencionais são plantadas, comercializadas e consumidas, em larga escala, a nível nacional e internacional. O processo de domesticação dessas espécies foi iniciado há muito tempo atrás e, desse modo, se encontram em estágio avançado de melhoramento genético. Como exemplos, podem ser citados a batata e o tomate.

Por outro lado, as hortaliças não convencionais são plantadas, comercializadas e consumidas, em pequena escala, numa região ou país. Esse grupo envolve tanto espécies nativas quanto exóticas de introdução antiga e recente. No Brasil, o jambu e a chicória-amazônica são exemplos de não convencionais nativas; o cariru e a alfavaca, de exóticas de introdução antiga; e, segundo Junqueira e Luengo (2000), as endíveas (chicórias amargo-adocicadas), o mache (alface de folhas pequenas e arredondadas), o radicchio (chicória vermelho-arroxeada), escarola frise (escarola crespa e clara no centro da cabeça) e a alface “red fire” (alface de folhas crespas e avermelhadas), de exóticas de introdução recente.

As hortaliças não convencionais, entretanto, variam quanto ao grau de domesticação. As exóticas de introdução recente estão em estágio mais avançado de melhoramento genético, pois são espécies, novas cultivares ou cultivares já plantadas comercialmente na Europa, América do Norte e/ou Ásia; as sementes são importadas ou produzidas e comercializadas por empresas especializadas. Já as nativas e exóticas de introdução antiga estão em fase de domesticação, sendo multiplicadas pelos próprios produtores e/ou por instituições governamentais de pesquisa. Diante disso, talvez não seja apropriado enquadrar as espécies exóticas de introdução recente no mesmo grupo das nativas e exóticas de introdução antiga.

Então, se essas espécies forem separadas, qual a denominação mais adequada para o grupo que incluirá as nativas e exóticas de introdução antiga? A designação “hortaliças não convencionais” pode não ser atrativa ao mercado, pois a palavra “não” exprime negação. Poderia ser “hortaliças negligenciadas”, por não terem as mesmas atenções e cuidados dispensados às convencionais, por parte do mercado; porém, a palavra “negligenciada” manifesta uma crítica velada ao mercado. Assim, ambas as palavras podem não ser favoráveis ao marketing dos produtos na conquista de novos consumidores.

As espécies nativas e exóticas de introdução antiga poderiam ser chamadas de hortaliças regionais, considerando a importância para um grupo, comunidade, território ou região. Todavia, em Manaus/Amazonas, produtores e comerciantes, para distinguir as hortaliças convencionais importadas das produzidas no Estado, estão adotando a palavra “regional”, como, por exemplo, alface americana regional.

No Rio Grande do Sul, um termo adotado por produtores e técnicos é crioulo, empregado tanto para raças de espécies animais quanto para variedades de espécies vegetais cultivadas há muito tempo pela população de determinada localidade ou região. Porém, não é muito usual na maior parte país.

Zuin e Zuin (2008) utilizam a denominação alimentos tradicionais, também chamados de produtos com história, para os alimentos que fazem parte da história social de uma determinada cultura. Devido aos conhecimentos e saberes-fazeres presentes nesses alimentos, através das gerações, a sua produção resgata não só a história envolta neles, mas o caráter histórico do próprio sujeito, contribuindo para a sua emancipação (Zuin e Zuin, 2008).

Diante do exposto, pode ser sugerida a designação hortaliças tradicionais, por conseguir contemplar os conceitos acima expostos, mas sem colocar as limitações dos respectivos termos mencionados.

Referências

JUNQUEIRA, A.H.; LUENGO, R.F.A. Mercados diferenciados de hortaliças. Horticultura Brasileira, v.18, n.2, p.95-99, 2000.

ZUIN, L.F.S.; ZUIN, P.B. Produção de alimentos tradicionais: extensão rural. Aparecida: Idéias & Letras, 2008. 219p.

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